* O Mundo Olhado *

28 novembro 2006

Festa da Música

Depois de vinte anos de música, de ter vivido várias fases, tido vários gostos, depois de ter escutado músicas de todos os tempos e de todos os lugares do planeta, eu posso afirmar que cheguei em minha plena evolução musical.
Quando falo de evolução musical, entenda que todos os estilos, todas as músicas, tudo é válido. Penso que quanto mais eclético musicalmente uma pessoa for, mais ela está musicalmente evoluída. Não condeno preferências, mas zelo pela justiça de assumir que todos os estilos têm música de qualidade, sem preconceitos. Até naquele funk, que muitos não gostam, há música de qualidade!

Como eu tive a percepção de me incluir no grupo de musicalmente evoluídos?! Graças a minha avó e seus CD’s.
Como assim?
Como assim, que há 5 anos atrás, ter que escolher um CD da minha avó para escutar era um sacrifício. Em plena adolescência, bandas que não fossem de Seatle ou que não tivessem 2 guitarras ou mais guitarras geralmente não caíam bem.
Mas como o tempo passa e os gostos mudam, crescem, se aglomeram; foi uma delícia poder novamente depois de muito tempo conferir os CD’s da vovó, e perceber que muita coisa mudou. Não, a minha avó não aumentou sua coleção de uns 200 CD’s, não aumentou muito, nesses anos todos que passaram eu diria que pintaram por ali não mais que 30 CD’s. Mas... analisando os cantores, bandas e orquestras ontem, pude perceber que o que mais mudou ali fui eu, que me tornei uma pessoa impressionantemente eclética, ao ponto de gostar de todos os CD’s da vó, admirá-los e escuta-los durante a madrugada de ontem.

Fiquei muito feliz ao perceber que mexendo naqueles CD’s eu estava entrando em uma FESTA DA MÚSICA, e o melhor, sem sair de casa! A festa foi mais ou menos, assim...
A festa começou ao som de Richard Clayderman com um piano fantástico! Ray Connif e sua banda subiram ao palco em seguida relembrando o CD Ray Live in Rio, gravado aqui mesmo na Cidade Maravilhosa. A madrugada estava só começando quando a festa caiu no samba, CD’s Casa de Samba I, II e III, tocaram várias músicas (esse com certeza esses CD’s entrarão no repertório do meu mp3), sambistas como Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Martinho e Beth Carvalho animaram a festa da música com sambas famosos e convidados especiais, Jamelão ficou até de bom-humor e a Velha Guarda da Portela parecia um bando de crianças dançando; Depois foi a vez de Frank Sinatra honrar seu apelido de “The Voice”, mostrando clássicos como Stranger In The Night, NY NY, Moon River entre outros. Aproveitando o vácuo do Sinatra, The Carpenters entraram em cena, uma banda que me lembra a minha infância e que tem uma temática muito atual, sua vocalista morreu de anorexia, caso semelhante ao da modelo brasileira que chamou a atenção da mídia semana passada.
A imperdível Orquestra Tabajara veio logo após os irmãos do Carpernters. Trouxe o som de uma das maiores orquestras brasileiras já existentes; para muitos, Tabajara é apenas um produto do Casseta e Planeta, mas para quem conhece música sabe quem são e sua importância. Em homenagem aos 10 anos de sua perda, Renato Russo em italiano e muita emoção. Para festa não desanimar, Chico Buarque, o malandro carioca subiu ao palco com graaandes sucessos, clássicos da música brasileira, Dorival Caymmi quis subir logo em seguida para não ficar atrás e começou cantando “Ai que saudade da Bahia”, impagável! Logo depois foi um show de Tarantela, não negando a descendência familiar que é a italiana, o ritmo contagiou a noite; Muitos boleros e tangos fizeram até os mais encabulados arriscarem uns passos; Elba Ramalho surgiu então grandiosa com forró e música nordestina, com destaque para a música Morena Tropicana de Alceu Valença. Logo em seguida foi a vez de entrar em cena um ritmo brasileiro, um ritmo carioca, o Chorinho! Nesse momento da festa, a madrugada já estava avançada e o Rei Roberto Carlos, vestido de azul e branco apareceu para cantar músicas de suas boas fases, um momento especial. Tom Jobim gostou muito, aplaudiu e resolveu cantar sobre garotas de ipanema, saudades do Rio e temáticas já conhecidas de seu repertório. Zizi Possi e Pavarotti também deram seus pitacos, Sérgio Mendes mostrou estar em grande fase e chamou até Baden Powell para acompanhá-lo. Caetano Veloso, que até então estava tímido, subiu ao palco, falou sobre atrocidades mundanas no espírito neolítico bucólico de sociedades altruísticas com mazelas de problemas algozes e acabou confundindo o público, mas quando resolveu cantar, a expressão de dúvida transformou-se em sorrisos de agrado. Seu parceiro Gil, nosso Ministro, não agüentou, invadiu o palco e cantaram juntos no final.
Rita Lee, a minha rainha, pediu licença da mesa em que me fazia companhia juntamente com Chico Buarque, Cartola, Noel Rosa, Maria Rita e Adriana Calcanhotto, subiu no palco e mostrou porque é a rainha do rock! Foi ouvido um imenso coro quando ela cantou a famosa música “Balada do Louco”, Raul Seixas podia ser visto aplaudindo de pé junto ao bar. Quando Francis Hime subiu ao palco com um piano magistral, o sono já era perceptível após horas e horas de festa da música, naquela altura Tim Maia, o síndico, anunciou que cantaria a saideira, seu sobrinho Ed Motta se emocionava com o tio que relembrava velhos sucessos, diga-se de passagem, a mesa de Ed Motta era uma das mais animadas da festa em vista da quantidade de botafoguenses lá presentes, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Marisa Monte, Emilio Santiago, Zélia Duncan, o próprio Ed, Marina Lima, Agnaldo Timóteo, Emilinha Borba, Vinicius de Moraes entre outros, cantavam o hino do Glorioso carioca.
Ao final, todos os artistas nacionais e internacionais se despediram, houve uma grande confraternização, alguns muito generosos trataram de arrumar a bagunça que estava feita aqui em casa, uns CD’s estavam nas caixinhas erradas, outros sumidos, outros bagunçados... ordem restabelecida, o dia amanhecia e eu fui dormir com um sorriso de quem se divertiu bastante em uma festa noturna inesperada.

24 novembro 2006

Que Rio é esse? (Versão Recital Carioca)

Que Rio é esse?
por Marcelo Cosentino





Em 1º de Janeiro de 1502 a expedição de Américo Vespúcio e Gaspar de Lemos avistou o que eles pensaram ser um enorme rio. Inicia-se aí a história de um lugar, de uma cidade, de um paraíso chamado: RIO DE JANEIRO.No dia 1° de Março de 1565, após dominar franceses e indígenas, Estácio de Sá funda a então São Sebastião do Rio de Janeiro, cidade que viria a ter uma grandeza cultural, histórica e comercial única.

A "Cidade Maravilhosa", é a mais visitada do Brasil turisticamente, tem a praia e o carnaval mais famosos do mundo, o maior estádio já construído e a maior floresta urbana do planeta. Uma cidade grandiosa em escala mundial e que atéinspirou o papa João Paulo II em sua visita à cidade, no ano de 1997: “Se Deus fosse brasileiro, então o papa seria carioca”.

Mas que "Cidade Maravilhosa" é essa?
Apresentando sinais de decadência industrial e comercial desde a transferência da capital para Brasília, em 1960, e a extinção do Estado da Guanabara, em 1975, e que vão se agravando em cada administração política sem compromisso; como o carioca avalia o Rio de Janeiro de hoje em dia? Será que ainda podemos considerar nossa cidade tão maravilhosa assim?

A beleza natural é um atrativo único deste lugar e sua história é fascinante. Mas o presente do Rio vai mal, muito mal. Desde 1975 o PIB do Estado não é tão baixo. O desemprego atinge uma parcela recorde da população e, como ponto mais agravante, a cidade do Rio de Janeiro passa por uma crise na área da saúde pública que é absolutamente inaceitável em vista do dinheiro repassado à prefeitura e mal investido nesta área. O resultado é uma grande parcela da população sem atendimento (s) básico(s) ou emergêncial(i)s.

A crise carioca é resultado de anos de má administração do dinheiro público, governos corruptos e de uma falta de representação do Estado no Governo Federal. Quantos ministros cariocas têm no atual governo? Nenhum. E os deputados e senadores que representam o Estado? A sua maioria está envolvida em esquemas de corrupção, CPI, sanguessuga, mensalão, etc. O Rio de Janeiro é o segundo Estado que mais concede tributos ao governo federal e apenas o 18° que mais recebe.

Para não virar uma grande cidade cinzenta falida, o Rio precisa de um upgrade total! É imprescindível para a cidade buscar investimentos certeiros, pessoas dedicadas e experientes e, principalmente, uma população mais consciente de seu papel na sociedade, de como gestos, atitudes e cobranças podem mudar uma cidade inteira. Criminalidade, violência, população de rua, população carente, má sinalização, depredação do patrimônio histórico e cultural da cidade, poluição visual, desemprego, balas perdidas, poluição de forma geral, debandada de indústrias,
trânsito em nó, polícia corrupta, tráfico etc.

BASTA!
Que Rio é esse?

Eu quero morar no bom, belo e velho Rio que cantavam os músicos e poetas há poucas décadas atrás, morar no Rio de Chico Buarque, Cartola, Tom Jobim e cantar:

Samba do Avião (Tom Jobim)

“Minha alma canta
Vejo o Rio de Janeiro
Estou morrendo de saudade
Rio, seu marPraia sem fim
Rio, você foi feito pra mim
Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você ...”

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Versão do texto "Que Rio é esse?" que foi publicada na primeira edição do Recital Carioca.

(*)foto: Pedra da Gávea.

17 novembro 2006

Cabral e César unidos. Agora sim!



Chega de palhaçada na política carioca, há mais de 20 anos governador e prefeito do Rio não firmavam pactos em favor da cidade. Mas a partir desse ano essa onde de atritos entre os poderes está cessada, o panorama promete mudar. O governador Sérgio Cabral (PMDB) e o prefeito César Maia (PFL), se encontraram ontem no Palácio da Cidade, em Botafogo, onde firmaram acordos e resolveram antigas problemáticas que envolviam prefeitura e governo estadual. A Linha Vermelha, única via do Rio que era controlada pelo Estado, será municipalizada e contará com monitoramento do Departamento de Estradas e Rodagens (DER). Outro acerto foi o da Guarda Municipal, que assumirá a fiscalização do trânsito no lugar dos PMs, mais um ganho para o ordenamento urbano da cidade.
Desde o fim do Estado da Guanabara que Estado e prefeitura brigam pela posse de monumentos, vias, pelo saneamento, por ícones cariocas como o Maracanã e o Teatro Municipal.
Em 2001 obras de saneamento da Zona Oeste foram adiadas por desentendimentos entre o prefeito César Maia e o governador Anthony Garotinho, a briga entre os poderes chegou a prejudicar o prazo de conclusão de projetos para o Pan, pois o terreno da construção do Estádio João Havelange (Engenhão) pertence ao governo do estado e a obra à prefeitura. Esse foi um dos impasses já resolvidos na conversa de ontem (16/11) entre o novo governador e o atual prefeito. A disputa histórica entre os poderes chegou a envolver problemáticas como os camelôs, a população de rua e as multas de trânsito; todas já encaminhadas para ter um desfecho que beneficie o Estado e a prefeitura.
Apesar de serem de partidos diferentes e terem sido rivais nas últimas eleições, com César Maia apoiando a candidata concorrente de Sérgio Cabral, a juíza Denise Frossard, ambos prometem acabar com essa divergência que tanto prejudicam a cidade do Rio de Janeiro e sua população. Alegam sempre terem tido uma boa relação e querem zelar pela Cidade Maravilhosa superando adversidades juntos. O governador eleito Sérgio Cabral já demonstrou seu desejo de união em prol do Estado e da cidade quando também se aliou ao presidente Lula (PT) visando maior participação na distribuição de verbas para os Estados (o estado do Rio de Janeiro é o segundo maior contribuinte e o décimo oitavo Estado a receber recursos). Agora é torcer pra que a união entre governo federal, estadual e municipal dê certo e traga benefícios para a cidade.

Quem ganha é o Rio!!

09 novembro 2006

Falando (agora sim) com Arthur Xexéo II

Depois de dezenas de e-mails mandados e de muito perturbar Arthur Xexéo, tudo em nome do Recital Carioca. Eis que hoje, 09 de Novembro, 18 dias após a primeira tentativa de contato, Arthur Xexéo me deu uma reposta positiva.
Literalmente “uma resposta positiva”, a resposta que recebi no meu e-mail continha apenas “ok”, nem uma palavra a mais nem uma a menos, mas isso já indica que podemos dar início a reportagem que eu tanto desejava sobre Chico Buarque antes e agora.

Sem ilusões, a história ainda não terminou em final feliz. A reportagem ainda nem começou a ser feita, mal foi devidamente pensada pra ser bem sincero. Mas é inegável que as coisas a partir de agora vão andar mais e melhor. O ruim dessa história, principalmente até hoje, é que as coisas não dependiam só de mim, sem o aval ou sequer sem a resposta do Arthur Xexéo nada seria possível, afinal a reportagem teria ele como personagem atuante principal e Chico como pano de fundo. Após seu pequeno aval, novamente pequeno literalmente (ok), está tudo mais dependente de mim mesmo, o que me anima a escrever e a moldar o quanto antes essa reportagem.

Obrigado a todos que me auxiliaram, ajudaram, perturbaram o Xexéo (de uma forma benéfica) e que acreditaram que seria possível.

03 novembro 2006

Orkut.


Qual o papel do Orkut na nossa sociedade contemporânea?

Garanto que não é o de apenas um mero coadjuvante. Ao ler hoje no jornal O Globo uma matéria inteiramente dedicada a falar das insatisfações dos funcionários das empresas aéreas e suas reclamações expostas no Orkut, fiquei imaginando o quanto esse “site de relacionamentos”, como é chamado impessoalmente, já se tornou um personagem influente e determinante da vida cotidiana brasileira.
Pelo Orkut, algumas pessoas já foram presas e/ou tiveram que se esclarecer perante a justiça por terem criado comunidades racistas e preconceituosas, olhem que tamanha evolução! Um site trazendo a tona pessoas fora da lei, e sendo usado pela justiça e pelas pessoas aptas para julgá-las. Muitos outros estão sendo caçados por pornografia infantil, mostrando mais uma vez que o site pode ser uma arma da justiça.
Mas nem só de rupturas com a lei vive o Orkut, uma série de empresas está avaliando seus possíveis candidatos a empregos ou estágios observando seus perfis. Ou seja, se você concorre a uma vaga em alguma empresa, não adianta aparecer na entrevista com o terno de melhor corte e o cabelo mais penteado se, na contramão disso tudo, você tiver fotos de porres homéricos com seus amigos ou ter comunidades como “Chefes são BABACAS”, “Odeio Trabalhar” etc. Sociologicamente analisando, o Orkut (principalmente) vai mudar a sociedade da seguinte forma: Ou as pessoas vão começar a mentir pela internet seus perfis, para assim ter boas imagens e não serem mal interpretadas ou mal vistas ou; as pessoas vão ficar menos exigentes, o mundo um pouco mais relaxado, afinal, todos têm podres, e as pessoas vão pensar 10 vezes antes de julgarem as outras por atitudes que as próprias já podem ter passado algumas vezes.
Se a internet mudou a vida das pessoas expandindo suas cabeças e acabando com fronteiras, se criou o que podemos chamar de “novas formas de comunicação”, dentro deste meio vasto há muito para se estudar sociologicamente falando quando tratamos do site Orkut, o maior fenômeno da internet brasileira já surgido.

Comunidade "Mundo Olhado" no orkut: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=19592198
(*)foto: reuters